Dive (2019)
“O absurdo esclarece-me o seguinte ponto: não há amanhã.
Esta é, a partir de então, a razão da minha liberdade profunda”
Albert Camus, O Mito de Sísifo, p.70
O homem vive à beira de um abismo. O mundo que habitamos está carregado de forças improcedentes. O que os une é o absurdo, a nossa própria condição. Sentimo-nos absurdos quando mergulhamos no palco da nossa existência. Este pensamento kafkiano resulta de uma inadaptação estrutural entre um ator (o homem) e o seu palco (o mundo). O mais perto de que alguém pode chegar de ser absolutamente livre é pela aceitação dessa incongruência.
É desta necessidade de atingir uma liberdade aparente que surge a ideia de me autorrepresentar numa narrativa, onde a ação se assemelha ao ato de mergulhar. Alguém que é confrontado com o assombro, que tenta desprender-se de um amarro e que procura ser livre com ajuda da razão, num mundo em silêncio irracional.
Dessa forma, resultou um conjunto de cinco fotografias, ao qual dei o nome de Dive (mergulho em inglês). Mergulhar na natureza como forma de nos conectarmos àquilo que nos rodeia, evocando um sentimento de liberdade e de transformação, mesmo estando conscientes da tendência de procurar significado dos nossos atos, enquanto sabemos que é humanamente impossível encontrar esse significado.
