Chrysalis (2020)
Na biologia, chrysalis - crisálida (em português), corresponde ao terceiro estado de vida de uma borboleta. A larva é envolvida pelo casulo, que fica suspenso até ao último estágio de transformação – a metamorfose. Em sentido figurado, o termo remete para algo que se encontra numa fase embrionária, sem estar terminado, mas que antevê uma consolidação. Em maior ou menor escala, este processo biológico é próprio de todas as espécies.
Quando se conduz esta tese até ao Homo Sapiens, torna-se claro que qualquer mudança é inerente à evolução. O fator diferencial reside em sermos agentes racionais, fazendo de nós homens responsáveis pela nossa própria metamorfose.
Chrysalis surge então da necessidade de representar o sujeito que, no intento de se emancipar, vive enclausurado e aparentemente inerte. Em comunhão indivisível com a terra que pisa, sofre constantes mutações que arrumam a sua existência num mero plano intermédio. O homem já não é o que era, mas também ainda não é quem deseja ser. Nasce desamparado, porque é mortal sem aviso prévio, e vive para desafiar o status quo. Essa predisposição para se autodesafiar surge de um casulo manente, onde ocorre um salto individual do instinto para o pensamento. Agora que, sob uma trama consagradamente crescente dos órgãos e das formas que nos firmam, se evidencia aos nossos olhos um aumento da consciência, toda a metamorfose humana se reduz, do ponto de vista natural, a uma questão morfológica de melhor cérebro.
Dessa forma, esta série surge como mote para uma reflexão existencialista sobre a relação do indivíduo com o seu próprio progresso. Deparado com um corpo adulto, o ser humano abre-se a um conjunto de transformações mentais e sociais, que jogam com os limites da lucidez.
À beira da evolução, seremos testemunhos finais ou arquétipos de algo maior?
